A Estação Ferroviária e as madrugadas curitibanas.
Cheguei do colégio, coloquei o relógio para despertar às
seis e meia e fui dormir. Morava com tio Juca, na Sete de Setembro a meia dúzia
de quarteirões da estação ferroviária.
Dava bem para levantar, ir ao Café Expresso tomar um café com um pão com
manteiga e pegar o trem. Gostava do café ali, pois a água chiada do chimarrão
era gelada perto deles.
Mas aquela manhã estava diferente. O dia ainda não havia
clareado e a avenida estava deserta. Os meus passos ecoavam na calçada. Uma
manhã diferente. Cheguei na Estação Ferroviária e estava fechada. Que
barbaridade! O que estaria acontecendo? O Café expresso também.
Havia um carro de praça do ponto. Era com os taxis eram
chamados. Acordei o motorista, ele abriu o vidro com uma cara zangada, perguntei
porque a Estação estava fechada Olha no relógio que você vai saber porquê! Eu
olhei, mas o relógio está parado! Respondi. Parado uma ova! O meu aqui marca a
mesma hora, olhando para o cebolão que tirou do bolso. Cebolão eram aqueles
relógios de bolso.
Fui embora fazer tempo para pegar o trem. Eu havia ligado o
despertador, mas esquecera de acertar o relógio. Resolvi esticar o corpo e esqueci-me
de ligar o despertador.
Acordei assustado com tio Juca, preocupado, perguntando se eu estava doente. Contei para
ele e ele caiu na risada. Viajei à tarde no misto.
Tio Juca achava que eu era desligado. Ele e tia Angelita
viajaram de férias. Foram passear no Rio de Janeiro. Uma viagem de um mês.
Antes de viajar minha tia falou para avisar o leiteiro para suspender a entrega
do leite até a volta.
Eram aquelas garrafas de vidro, com um litro de leite gordo.
Nos finais de semana, quando eu ia a Morretes, na volta tinha três garrafas. E
o leite começou a coalhar. Naquele mês tomei trinta litros do coalhada.
Havia um dia da semana, acho que nas segundas feiras, em que
a tia Angelita ia à missa das almas na Igreja do Bom Jesus. A missa começava às
da manhã a uns três quarteirões. Eu a acompanhava.
Um dia chegamos e encontramos o portão fechado. Ela tocou
uma campainha e atendeu um vigilante. Informou que a Igreja estava fechada
naquele dia para reforma e que a missa seria no colégio São José, do outro lado
da praça.
O Colégio São José era um colégio para moças e tinha um
pensionato para moças solteiras que iam a Curitiba para estudar ou para
trabalhar. A atendente informou que deveríamos Ir por aquele “corredor até o
final e subir a escada”. Lá fomos. Minha tia na frente e eu atrás. Ainda bem!
A atendente não informou que a capela ficava no penúltimo
andar. No último andar era o dormitório das moças. Chegamos no momento em que
elas estavam levantando. Imaginem as moças pudicas, há sessenta e dois anos,
chegando acompanhada com um guapo rapaz.