Eric Hunzicker, o historiador de Morretes, publicou uma descrição da
festa de São Pedro, que me transportou aos meus tempos de coroinhas no tempo do
Padre Camargo.
Eu e Valdinho Colodel éramos os coroinhas (sacristão, como então éramos
chamados) do Padre Camargo. Tínhamos, então, por volta de 13 ou 14 anos. Éramos
excelentes profissionais (desculpem-me a imodéstia) e isto nos garantia privilégios
que tínhamos nas aulas de latim no ginásio, ministradas pelo Padre.
Nas festas de São Pedro, como em outras capelas, o Padre ia de charrete, conduzida
por Valdinho. Claro, neto de seu Lourencinho, ferreiro antigo de Morretes,
exímio colocador de ferraduras nos cavalos da cidade.
Numa festa no Rio Sagrado, Jairo, sobrinho de dona Sebastiana insistiu em
ir junto. Dona Sebastiana tomava conta do posto Telefônico e Jairo era o seu
estafeta; corria a cidade para chamar as pessoas para atender telefonemas no posto,
na pracinha do paredão (estou usando a toponímia da época). Vivia cansado.
O Padre era madrugador. Saíamos ainda escuro, pois rezava uma missa às
sete e antes da missa havia um opíparo café na casa do festeiro e/ou capelão. O
almoço era um banquete, dentro das possibilidades locais. Padre Camargo sentia-se
o lídimo representante de Deus em Morretes. Bem diferente do Padre Saviniano
que o antecedeu, a expressão da modéstia.
A prima Sirley Malucelli, sobrinha da Beta Grossi, costureira de mancheia
e pesquisadora da vida alheia local[1],
resolveu fazer um chapéu novo para o Padre Saveniano para usar numa reunião em que
como pareceriam padres de Curitiba, Paranaguá, Antonina e outras cidades próximas.
Como era costume na época, os padres iam chegando e colocando os seus chapéus na
chapeleira. E lá estava o chapéu novinho em folha, presente da Beta. No término
do encontro, cada padre pegou o seu chapéu e retornou para a sua paróquia e um
deles com um chapéu novinho em folha. E lá ficou um chapéu em pior estado
daquele que Beta substituiu.
Voltando à festa do Rio Sagrado. Saímos pouco antes das quatro da manhã.
Escuro. O Padre e Valdinho (o condutor) na charrete, eu e Jairo de bicicleta.
Quando estávamos no alto do Morro Comprido senti falta de Jairo. Avisei o Padre
e voltei. Saindo de Morretes, havia uma subida, uma descida e em seguida a
subida maior. Embalávamos a bicicleta na primeira descida para subir com folga
na subida maior. Jairo dormiu na descida
e caiu num jasminzal. Acordou sem saber onde estava sem apoio para se levantar,
eu o descobri pelos seus pedidos de socorro.
Dona Helena Cit Cordeiro lembrou-se da “Banda dos Coroas”, paixão de
Ewaldo Zilli, que hoje nos observa do outro lado. No meu tempo de guri em
Morretes o nome da banda era Euterpina, uma homenagem a Euterpe.
Segundo o “Santo Google”, Euterpe, a Doadora de Prazeres do grego
eu (bom, bem) e τέρπ-εω ('dar' prazer), foi uma das nove musas da mitologia
grega, as filhas de Zeus e Mnemósine,
filha de Oceano e
Tétis.
Era a musa da Música. No final do período clássico, foi nomeada a musa da poesia lírica
e usava uma flauta.
Alguns consideram que tenha inventado a aulos ou flauta-dupla,
mas a maioria dos mitólogos dá crédito a Marsyas.
[1]
Eu já contei
aqui de quando Beta ficou presa na porta do cemitério. Já estava escuro, quando
ela pedia socorro as pessoas fugiam pensando que fosse alguma alma penada
querendo sair fora dos muros do campo-santo.