Fiquei três anos e dez meses sem ir a Morretes. Tenho um compromisso com os amigos – ou melhor, é um compromisso nosso – de formatura do ginásio de nos encontrarmos em dezembro para um almoço. Duas vezes proibido pelo trabalho e da última vez pelo médico. Mas agora com chuva ou vento, nem que chovesse canivete viria. Se minha mãe fosse viva completariam 100 anos neste 16 de outubro. No dia 14 de agosto foi o centenário de nascimento do meu pai.
Gosto de escrever sobre Morretes. Por diversas vezes chamam-me de saudosista, talvez por um menosprezo pela história, ou talvez por temor pelo tempo que passa. Falando dos que nos antecederam estaremos falando de nós mesmo, da nossa matéria-prima social. Somos seres que vivem uma história.
Quem vive em Morretes vê a sua história passar sem se dar conta dela, a não ser quando levam alguém à sua última morada. Eric tem me avisado: hoje fomos enterrar... enterrar alguém que viveu e teve uma história.
Morretes é o meu território. Esta gente que viveu comigo e que vive quando retorno para lá e o mundo físico em que vivemos constrói na memora de cada um uma imagem. Quantas vezes ao olhar o céu de São Paulo, ou o sol encoberto pelas nuvens, eu me pego “vendo” Morretes. E me sinto em Morretes quando vou a Boracéia ao olhar para as montanhas encobertas pelas nuvens e logo depois despidas delas, como se fossem as serras às eu me acostumei a ver desde pequeno.
Vou ao cemitério e lá estão as tumbas que guardam os restos mortais do meu pai e da minha mãe, de nonno e de nonna, do meu avô e da minha avó, dos meus tios e tias, dos meus tios avós e minhas tinhas avós. Vejo neles a minha ascendência, a minha história.
Nos meus retornos por vezes vejo este território como se fossem capítulos da minha história, cada capítulo um pouco diferente do anterior. Vejo pessoas que não conheço e que sou um desconhecido delas.
Certa vez eu comentei num dos meus textos a “queixa” de Adaulino: onde está a minha Morretes? A Morretes dele guri, que foi a minha Morretes. A nossa Morretes está na história. De quando ir a Curitiba era uma viagem e ir a São Paulo que precisava se despedir de todos os parentes e amigos.
Minha irmã comentou, nesta minha chegada, de “como é bom viver em Morretes”: as pessoas organizam excursões, fazem viagens turísticas de navio e em outros lugares turísticos. Organizam-em grupos de primeira, segunda e terceira idades e logo de quarta idade.
E aqui estou. Mas terei que voltar logo, pois a vida fez-me construir uma vida em outras plagas. As obrigações me chamam. Eu acho que me tornei um morretense “paranalista” uma mistura de paranaense e paulista, apesar do meu ¼ de vida paranaense e ¾ de vida paulista, mas foi em Morretes que eu vi o mundo pela primeira vez.
Um comentário:
Caro companheiro, amigo e conterrâneo Mauro.
Linda tua matéria, nossa Morretes no aspecto físico está um esplendor,mas na humana continuo me sentindo um fantasma pernanbulando entre desconhecidos.
No cemitério, eu me completo, sou um fantasma vivo visitando fantasmas mortos, amigos e conhecidos,com os quais converso e troco idéias, e saio me despedindo até logo mais.
Adaulino ou Nino.
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