sábado, 2 de abril de 2011

A bananeira da terra e o “braço da direção”

Morretes  já foi conhecida como a terra da cana-de-açúcar, da banana e agora do barreado. Cada fase deixou a sua história. A fase da cana-de-açúcar para a fabricação da cachaça tornou o verbete morretiana um sinônimo da cachaça. Isto se deve ao Marquinhos Malucelli que tinha a sua pinga morretiana com o “pau dentro”, isto é, um pedaço de gomo de cana dentro da garrafa. Era a mesma pinga numa garrafa bonita e de preço bem mais alto. Marquinho endoideceu, comentavam. Hoje se elogia o seu tino para negócios.

Quando os Malucelli construíram a usina de açúcar, era grande o trânsito de caminhões, carroças, tratores, carregando cana. Do amanhecer ao anoitecer, durante a safra de cana. Eu fui criado na Estrada do Central onde ficava o engenho. Havia outros engenhos de pinga que também trabalhavam a todo vapor.

Elias Maia era o “Rei da Banana”. Parte da banana consumida em Buenos Aires era morretense. Em Curitiba também. Vagões ferroviários saíam carregados de banana embalada para viagem marítima, exportada pelo porto de Paranaguá. 

A banana também era transportada para Curitiba por via ferroviária.

Os bananais ficavam nas encostas das serras. Os cachos eram transportados nas costas, por vezes por zorras, até as carroças ou aos caminhões e daí para a cidade.

 Papai tinha um caminhão e volta e meia era contratado para ir buscar banana nas roças.  Ainda me lembro de um Chevrolet ano 39 serpenteando por estradas de carroça, morros acima.

Eu tinha os meus sete, oito anos, e era seu passageiro constante. Ele se afastava e me sentava frente ao volante e falava: leve! Levar era dirigir. Mas conservava o controle dos pedais da embreagem, do freio, do acelerador e o câmbio (troca de marchas). E não admitia as minhas barbeiragens. Quando cometia alguma ele gritava logo “Porco Dio! Não sabe dirigir?”. Eu me afastava e ele me colocava de volta e vinha a “voz de comando”: leve.

O meu pai tinha vocação para capo. Que eu me lembre, dos cinco irmãos era o único que era chamado de nonno. Eu, como filho mais velho, queria me transformar em capo, seu herdeiro. Hoje, pelo que sei, parece-me que sou o único nonno entre os meus primos.

Era comum, nos carros de então, escapar o “braço da direção”, uma alavanca de ferro que liga o eixo do volante à roda, o carro fica desgovernado. Meu pai cortava “camisas de câmara de ar” e com ela enrolava o “braço da direção”. Este cuidado se devia da falta de confiança que ele adquiriu numas viagens numa roça de banana. Foi lá para os lados do Marumbi. Para lá dos Gnata. Era serra.

Vinha descendo a serra quando soltou o “braço da direção”. O caminhão saiu da estrada, desceu uma barroca e parou seguro pela mata. Os ajudantes estavam em cima da carga de banana, com os pés sobre a cabine, como era costume. Dentre eles estavam meus dois tios, irmãos de minha mãe, tio Almir e tio Rubico.

Quando o caminhão parou lá embaixo, o pessoal que estava sobre a carga foi arremessado para dentro do mato.

Refeitos do susto, contava meu pai, fez a contagem do pessoal que estava sobre a carga. Estavam todos, menos tio Rubico. Rubicooooo!!!! Nada de Rubico. Será que Rubico morreu? Pegaram foices e facões de começaram a afastar o mato para encontrar o desaparecido.

Depois de muito trabalho, ouviu-se, baixinho, to aqui!... Onde? Aqui, onde? aqui!... Ele estava empoleirado, abraçado no alto uma bananeira da terra. Alta e de tronco fino.

Quando ele foi arremessado bateu e se abraçou no alto da bananeira, acima do cacho. Como balançava, ele temia que se falasse alto a bananeira viesse a quebrar com ele lá em cima.

Tiveram que cortar escoras com forquilhas para escorar a bananeira para ele descer.

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