Recebi uma carta aberta de Izaltino Tonetti, amigo desde o
nosso curso primário (hoje chamado de fundamental). Fomos alunos da minha mãe e
Tino nos conta um falto que lhe foi marcante. Passarei a palavra a ele, mas à
frente, transcrevendo a sua carta.
É gratificante falar da nossa mãe. Ela faleceu há 57 anos.
58 anos em março próximo. Os seus últimos alunos estão, hoje, na faixa dos 70
anos. Há 16 anos ela é nome de uma
escola. Fico imaginando os alunos ficarem a pensar “quem é Dulce Serôa da Motta
Cherobim?”.
A minha mãe faleceu jovem.
Com 45 anos. Muito jovem aos padrões de hoje. Foi uma professora
prestigiada, muito ciosa da sua atividade. Fui aluno dela por duas vezes. Uma vez na escola primária e outra vez no ginásio,
atuais quatro últimas séries do curso fundamental.
Quando um filho fala dos seus pais fica a pairar no ar uma
suspeição, mas posso dizer que eu não fui um bom filho o quanto eu tive uma boa
mãe. Digo o mesmo com relação ao meu pai.
A minha mãe educou os seus filhos e viveu numa época diversa
da atual e numa cidade pequena e relativamente isolada. E a professora que
tinha um filho entre os seus alunos tinha que tomar certos cuidados, poias
tanto agora como naquela época os pais sempre foram ciosos pelas notas
escolares dos seus filhos. Muitas vezes ela me chamava a atenção como exemplo à
classe. Nunca fui um bom aluno durante toda a minha vida escolar, mas também
nunca fui dos últimos. E a carta do Tino conta um destes fatos, como disse
acima, marcante para ele. Eu não me lembro deste fato que ele narra.
Mas tenho que fazer uma retificação. Fomos alunos da minha
mãe no grupo escolar quando funcionava onde hoje está o Colégio Rocha Pombo.
Deveríamos estar no 2º ano do primário. A mudança para o prédio da rua XV, recém construído, foi no
ano letivo de 1948. Estávamos no 4º ano.
Izaltino Tonetti com a palavra!
DONA DULCE,
POR IZALTINO TONETTI.
Um dia pensei
em escrever uma Carta Aberta ao colega de escola Mauro Seroa da Motta Cherobim,
lembrando o nosso tempo de escola que juntos estudamos. Nossa escola se chamava
"Miguel Schleder". Ela ficava de frente com a Rua XV de Novembro em
Morretes, Paraná.
Tinha na frente
já com dez metros de altura, sete palmeiras "real" e que do outro
lado da rua tinha o Bar e Restaurante "Barril" que era o nome dele, e
que pertencia a Dona Maria Malucelli Ferreira (Mariquinha) e do lado do bar,
era o Mercado de Secos e Molhados do Benedito Antunes de Oliveira..
No tempo da
safra de café a rua XV ficava cheia de caminhões carregados de café e que no
Bar e Restaurante "Barril" os caminhoneiros ali almoçavam para depois
seguir para Paranaguá. Tudo que se produzia no Paraná para exportar, passava
pelo centro da cidade de Morretes.
Atrás da escola
havia também sete palmeiras "real", quase na beira do Rio
Nundiaquara.
lamos para a
escola usando guarda pó, tênis brancos e "loirinha", que era uma
sandália feita na sapataria do Sr. Horácio Martins de Andrade e do Sr. Aramys
Zanardi.
Antes de nós
entrar nos formava de dois em dois, sendo que os meninos» ficavam na frente a
as meninas atrás. Cantávamos o Hino Nacional ou o Hino da Bandeira. Depois
entrávamos para a sala de aula, sendo que as meninas sentavam na frente e nós
atrás. Nossa carteira era de madeira, com uma gaveta em baixo para por as
sacolas dos cadernos. Os pés eram de ferro fundido e parafusado no chão, que
era de taco de madeira.
Na escrivaninha
havia no meio um buraco para por o tinteiro, para molhar a pena da caneta para
escrever. Nossa cadeira era de ferro com acento de madeira e o encosto também
apoiado em dois braços de ferro e parafusado no chão. E havia uma regulagem no
pé, para regular a alturas das pernas das crianças. A escrivaninha da
Professora tinha o tamanho de um metro e meio de comprimento por setenta de
largura. A cadeira era de madeira. O quadro-negro tinha quatro metros de
largura por um metro e meio de altura. Era feito na própria parede. Era
moldurado em madeira e na parte de baixo havia um espaço para por giz e o
apagador. A Professora sempre escrevia no quadro-negro as lições do dia.
Passava problemas que nós copiávamos no caderno onde fazíamos as continhas para
chegar ao resultado final. Passava também expressões de frações decimais e
ordinárias para que também achássemos o resultado. Estudávamos regras de três,
regras de juros e de geometria. Também Geografia, História, Português (verbos,
adjetivos, substantivos, etc), Ciências.
Tudo isso e
muito mais só uma Professora ensinava o ano inteiro. Nossa Professora tinha
muita paciência. Quando alguém fazia bagunça na sala, como o Nicolino Cunha que
sempre puxava o cabelo da Luzia Porcides, que sentava na frente da sua
carteira. Ela alertava a Professora, dizendo assim: “Professora olhe ele aqui
está puxando o meu cabelo". A Professora só olhava o bagunceiro com aquele
olhar cativante, macio, amoroso que, ao vê-lo ele ficava envergonhado e ficava
quieto. Como que com aquele olhar a Professora estivesse pedindo silêncio, para
que ela nos pudesse ensinar.
Certo dia a
Professora passou no quadro-negro umas continhas para serem feitas. Copiamos no
caderno e estávamos fazendo para achar o resultado. Aí a Professora foi de
carteira em carteira para ver se estávamos fazendo certo. Ao chegar na minha
carteira e ver o meu caderno ficou admirada e chamou meu colega Mauro dizendo:
"venha até aqui meu filho" e você (Mauro) atendeu o pedido de sua mãe
que completou: "olhe aqui meu filho porque você não faz como o Tonetti,
ele ocupa todo o espaço do caderno. Onde tem espaço para fazer uma continha ele
faz. E você faz uma em cada página do caderno".
Essa reprimenda
a você foi elogio para mim, vindo da Professora que era a sua própria mãe, Dona
Dulce Serôa da Mota Cherobim.
No fim do ano
eu fui o primeiro da classe ao tirar a melhor nota nos exames. Ganhei da tua
mãe uma caixa de chocolates.
Aqui termino a
minha carta, sentindo saudade daquela época em que o ensino fundamental era
mais proveitoso.
O que
aprendemos nosso tempo, hoje só nas universidades.
Do seu colega
Izaltino Tonetti.
Sessenta e sete
anos depois...
Morretes,
Paraná, Brasil, 18 de abril de 2013.
Telefone: (41) 3462-2589
E-mail:
Etonetti@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário