Odith
Salomão foi minha colega durante uma parte, ou todo, do curso primário.
Lembro-me claramente, talvez por estarmos entrando na adolescência. Fizemos o
quinto ano juntos. Os alunos que faziam o quinto ano eram aqueles considerados
os mais fracos, que não poderiam “dar no coro” no ginásio. O ginásio começou a
funcionar. Colegas nossos do quarto ano, considerados os melhores alunos
fizeram admissão para constituir a primeira turma. Eu, Odith, Valdinho, Aydée,
Leonice e mais alguns que de momento não me lembro, não pudemos participar da primeira
turma.
O
ginásio não era público. Não sei qual fora a sua constituição legal, o que sei
é que os alunos pagavam mensalidades. No final do quinto ano nos preparamos
para o concurso de admissão. O primeiro colocado seria agraciado com uma bolsa
de um ano, o segundo com seis meses e o terceiro com três meses. Carlota
Freitas, uma guria muito estudiosa, séria... Morava com o irmão e tinha duas
sobrinhas mais ou menos com a mesma idade dela, Eli e Eni. Se eu estiver
enganado com os nomes peço que se eu tiver algum leitor do meu tempo faça a
correção. A família mudou de Morretes e muitos corações adolescentes ficaram
entristecidos.
Carlota
e Odith não chegaram a completar o primeiro ano. Carlota porque se mudou para
outra cidade e Odith para trabalhar. E eu não cheguei a pagar mensalidade, pois
antes do terceiro mês o ginásio foi estadualizado.
Papai
sugeriu que eu deveria aprender uma profissão. Conversou com Seu Marquinho De Bona para ser estagiário
no escritório do Marquinho Malucelli. Darcy era o contador, auxiliado pelo Lídeo
e pelo João Veloso. Os três eram de Antonina e o emprego em Morretes era para
eles jogarem no Operário, um dos dois times de futebol de Morretes. E lá estava
Odith. Era funcionária do escritório.
Marquinho
De Bona era um homem de mil instrumentos. Era coletor federal, chefe do escritório
do Marquinho Malucelli, presidente do Clube Sete de Setembro, agente de uma
companhia de capitalização, era quem fazia os discursos em todas as solenidades
e ainda correspondente de um jornal de Curitiba. Nesta época era correspondente
do jornal O Dia.
Seu Marquinho terminava os
seus discursos com a expressão “tenho dito” e este foi um título de um livro em
que a sua filha Lígia publicou os seus discursos seguidos de um comentário para
contextualizá-los.
A
companhia de capitalização era a Bahia Capitalização. Odith cobrava a
mensalidade dos títulos na cidade e eu fora da cidade. Foi numa destas
cobranças, num dia muito quente, cheguei no engenho do seu Lori Alpendre fazer
a cobrança. Ele me falou para tomar uma quira
(garapa fermentada para ir ao alambique para ser destilada e sair a cachaça) enquanto
ia buscar o dinheiro. Eu me excedi na quira e tome o meu primeiro porre, que
conto num texto aqui no Blog.
Olga,
a dona do prostíbulo da cidade, também tinha um título. Um dia eu saía da “zona”
e encontrei tio João Fante (meu tio-nonno). Ele ficou assustado e queria saber
o que eu estava fazendo “na Olga”. Eu
expliquei a ele. Disse para ter cuidado e contou a história da Rosa –homem, do
tempo que ele era moço.
A
“zona“ da Olga ficava no começo da reta do Porto, uma reta que ligava a cidade
com o seu distrito, o Porto de Cima. A reta do Porto era emblemática. Os mais
velhos contavam da velinha que
percorria os seis quilômetros da reta.
O
meu pai era muito namorador, frequentador dos fandangos nos sítios. Chamávamos
de fandango os bailes de sítio. Ele contava que uma noite voltava para a
cidade, mais precisamente para o Central, viu uma luz se aproximando e a eguinha
que ele montava começou a ficar agitada. Para não cair do cavalo e ficar a pé
teve eu dar meia volta e fugir da vela.
Eu
e Odith ajudávamos no clube Sete de Setembro quando tinha baile.
Com
isto eu ganhava alguma coisa e Odith completava o seu salário. Ela era três
meses mais nova do que eu. Com o advento das redes sociais eu encontrei Odith
no Orkut. Conversávamos muito a respeito de Morretes “do nosso tempo”.
Encontrei um texto de um dos papos meus com
Odith. Como se refere a Morretes de um bom tempo atrás. Este texto é de 2006. Quando falo em “há uns
20 anos” o fato descrito aconteceu lá pelo ano de 86 do século passado.
Há
uns 20 anos estava passeando por Morretes com um dos meus filhos que deveria
ter, naquela época, por volta de 12 ou 13 anos. Chegamos até o Ginásio. Paramos
na porta da frente e comecei mostrar as salas que estudara no tempo do grupo e
depois do ginásio. Chegou uma moça, não tão moça, mas moça para nós, pois era
de geração bem mais nova.
Perguntou se eu desejava alguma coisa.
Disse-lhe que estava mostrando para o meu filho onde eu estudara, que fora
aluno da segunda turma do ginásio. Ela abriu um sorriso de galhofa e me
convidou para entrar: venha cá, aqui tem
duas velhinhas que talvez seja do seu tempo.
As
duas “velhinhas” eram a Maria Joana Valério (contei para ela no nosso primeiro
almoço, dos 50 anos da formatura do ginásio) e a Maria Leoni Biúdes. A moça que
me levou às “velhinhas” era uma filha do Eguiberto Consentino.
Cada
um de nós se lembra de um pedaço da história que todos nós participamos. Como a
nossa memória é seletiva, mas por conta de dela que ao nosso comando, cada qual
se lembra de um pedaço.
As
aulas de desenho com mamãe, depois com Dona Desauda. As aulas de Canto
Orfeônico com Dona Semíramis. O Pe. Camargo batendo com o dardo na cabeça dos
alunos e brigando com o Dr. Luiz, o Juiz de Direito. Tudo isto são lembranças
vivas.
Você
se lembra, no escritório do Malucelli, que você era a encarregada daquela
prensa e que, o mais rápido possível, passou para mim? O Darcy, o nosso segundo
chefe, depois do seu Marquinho De Bonna. O João, com aquela caligrafia
caprichada preenchendo os livros contábeis? Boas lembranças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário