sábado, 9 de maio de 2015

Há 30 anos, em Morretes...

Odith Salomão foi minha colega durante uma parte, ou todo, do curso primário. Lembro-me claramente, talvez por estarmos entrando na adolescência. Fizemos o quinto ano juntos. Os alunos que faziam o quinto ano eram aqueles considerados os mais fracos, que não poderiam “dar no coro” no ginásio. O ginásio começou a funcionar. Colegas nossos do quarto ano, considerados os melhores alunos fizeram admissão para constituir a primeira turma. Eu, Odith, Valdinho, Aydée, Leonice e mais alguns que de momento não me lembro, não pudemos participar da primeira turma.

O ginásio não era público. Não sei qual fora a sua constituição legal, o que sei é que os alunos pagavam mensalidades. No final do quinto ano nos preparamos para o concurso de admissão. O primeiro colocado seria agraciado com uma bolsa de um ano, o segundo com seis meses e o terceiro com três meses. Carlota Freitas, uma guria muito estudiosa, séria... Morava com o irmão e tinha duas sobrinhas mais ou menos com a mesma idade dela, Eli e Eni. Se eu estiver enganado com os nomes peço que se eu tiver algum leitor do meu tempo faça a correção. A família mudou de Morretes e muitos corações adolescentes ficaram entristecidos.

Carlota e Odith não chegaram a completar o primeiro ano. Carlota porque se mudou para outra cidade e Odith para trabalhar. E eu não cheguei a pagar mensalidade, pois antes do terceiro mês o ginásio foi estadualizado.

Papai sugeriu que eu deveria aprender uma profissão. Conversou com Seu Marquinho De Bona para ser estagiário no escritório do Marquinho Malucelli. Darcy era o contador, auxiliado pelo Lídeo e pelo João Veloso. Os três eram de Antonina e o emprego em Morretes era para eles jogarem no Operário, um dos dois times de futebol de Morretes. E lá estava Odith. Era funcionária do escritório.

Marquinho De Bona era um homem de mil instrumentos. Era coletor federal, chefe do escritório do Marquinho Malucelli, presidente do Clube Sete de Setembro, agente de uma companhia de capitalização, era quem fazia os discursos em todas as solenidades e ainda correspondente de um jornal de Curitiba. Nesta época era correspondente do jornal O Dia.

Seu Marquinho terminava os seus discursos com a expressão “tenho dito” e este foi um título de um livro em que a sua filha Lígia publicou os seus discursos seguidos de um comentário para contextualizá-los.

A companhia de capitalização era a Bahia Capitalização. Odith cobrava a mensalidade dos títulos na cidade e eu fora da cidade. Foi numa destas cobranças, num dia muito quente, cheguei no engenho do seu Lori Alpendre fazer a cobrança. Ele me falou para tomar uma quira (garapa fermentada para ir ao alambique para ser destilada e sair a cachaça) enquanto ia buscar o dinheiro. Eu me excedi na quira e tome o meu primeiro porre, que conto num texto aqui no Blog.

Olga, a dona do prostíbulo da cidade, também tinha um título. Um dia eu saía da “zona” e encontrei tio João Fante (meu tio-nonno). Ele ficou assustado e queria saber o que eu estava fazendo “na Olga”. Eu expliquei a ele. Disse para ter cuidado e contou a história da Rosa –homem, do tempo que ele era moço.

A “zona“ da Olga ficava no começo da reta do Porto, uma reta que ligava a cidade com o seu distrito, o Porto de Cima. A reta do Porto era emblemática. Os mais velhos contavam da velinha que percorria os seis quilômetros da reta.

O meu pai era muito namorador, frequentador dos fandangos nos sítios. Chamávamos de fandango os bailes de sítio. Ele contava que uma noite voltava para a cidade, mais precisamente para o Central, viu uma luz se aproximando e a eguinha que ele montava começou a ficar agitada. Para não cair do cavalo e ficar a pé teve eu dar meia volta e fugir da vela.

Eu e Odith ajudávamos no clube Sete de Setembro quando tinha baile.

Com isto eu ganhava alguma coisa e Odith completava o seu salário. Ela era três meses mais nova do que eu. Com o advento das redes sociais eu encontrei Odith no Orkut. Conversávamos muito a respeito de Morretes “do nosso tempo”.

Encontrei um texto de um dos papos meus com Odith. Como se refere a Morretes de um bom tempo atrás.  Este texto é de 2006. Quando falo em “há uns 20 anos” o fato descrito aconteceu lá pelo ano de 86 do século passado.


Há uns 20 anos estava passeando por Morretes com um dos meus filhos que deveria ter, naquela época, por volta de 12 ou 13 anos. Chegamos até o Ginásio. Paramos na porta da frente e comecei mostrar as salas que estudara no tempo do grupo e depois do ginásio. Chegou uma moça, não tão moça, mas moça para nós, pois era de geração bem mais nova.

 Perguntou se eu desejava alguma coisa. Disse-lhe que estava mostrando para o meu filho onde eu estudara, que fora aluno da segunda turma do ginásio. Ela abriu um sorriso de galhofa e me convidou para entrar: venha cá, aqui tem duas velhinhas que talvez seja do seu tempo.

As duas “velhinhas” eram a Maria Joana Valério (contei para ela no nosso primeiro almoço, dos 50 anos da formatura do ginásio) e a Maria Leoni Biúdes. A moça que me levou às “velhinhas” era uma filha do Eguiberto Consentino.

Cada um de nós se lembra de um pedaço da história que todos nós participamos. Como a nossa memória é seletiva, mas por conta de dela que ao nosso comando, cada qual se lembra de um pedaço.



As aulas de desenho com mamãe, depois com Dona Desauda. As aulas de Canto Orfeônico com Dona Semíramis. O Pe. Camargo batendo com o dardo na cabeça dos alunos e brigando com o Dr. Luiz, o Juiz de Direito. Tudo isto são lembranças vivas.


Você se lembra, no escritório do Malucelli, que você era a encarregada daquela prensa e que, o mais rápido possível, passou para mim? O Darcy, o nosso segundo chefe, depois do seu Marquinho De Bonna. O João, com aquela caligrafia caprichada preenchendo os livros contábeis? Boas lembranças.

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