Em Curitiba circulava o
jornal O Dia. Os meus pais eram
assinantes deste jornal e eu seu leitor assíduo. Foi este jornal, vendido a
quilo, que permitiu comprar o vidro do ginásio, que contei numa das minhas
lembranças em Morretes Notícia. Era eu que sempre estava em casa quando
Dagoberto vinha entregar o jornal, ansioso para ler a charge do Chico Fumaça.
Fico pensando: acho que errei de profissão; deveria estudar jornalismo. Josué,
filho da Dona Rosinha, neto de Dona Isaura, talvez tenha sido o primeiro
morretense a ingressar num curso jornalismo. Senti aquele clique de quem diz:
por que não fiz? Falo isto, pois gostava de dar as notícias em primeira mão. Mas
o que é a etnografia se não contar histórias? Do Chico Fumaça e outras notícias
interessantes para mim, na fase de pré-adolescência e na adolescência. Os
comentários e as críticas muitas vezes contundentes, mas numa linguagem que o
pré-adolescente e adolescente imaginava ser para ele.
Eu era leitor de Chico Fumaça e da coluna do
Elói Montalvão, dois personagens de um só autor, Alceu Chichorro. Chico Fumaça,
Dona Marcolina pareciam ser o seu altar-ego. O foco deste colunista, fui
compreender depois, era a política.
Na Morretes da minha
geração a política era algo muito próximo e o sistema partidário de então era
bem representado. Getúlio Vargas criou dois partidos, o PSD para os ricos e o
PTB para os pobres. Para a pequena burguesia ficou a UDN. Morretes era dividida
pelo futebol e pela política e o PTB era muito forte na passagem da década de
40 para a de 50. Em 51 conseguiu eleger seu
Corrêa Lima, prefeito de Morretes. Se a memória não falhar, Juca Pereira era o
seu vice. Mas, me lembro bem, era o dirigente do PTB morretense. Corrêa Lima
era chefe de trem e Juca Pereira o concessionário do bar da estação
ferroviária. Os ferroviários, quase todos, eram petebistas.
Todo morador de cidade
pequena é bairrista; ver uma referência à sua cidade, mesmo que seja implícita,
fica radiante. Como no dia em que li o comentário de Eloi Montalvão que um
prefeito de uma cidade do litoral, ex-chefe de trem, recebeu um manifesto de
carga onde constava que na composição havia dois vagões com suínos. Corrêa
Lima, ao fazer a conferência da carga, enviou um telegrama informando que os
dois vagões de suínos não faziam parte da composição, mas que havia dois vagões
de porcos não relacionados no manifesto. Juca Pereira escreveu para o colunista
falando da injustiça contra Corrêa Lima, um bom homem (realmente era!). Elói
Montalvão publicou a carta de Juca Pereira e logo abaixo respondeu que não
citara nome e que se a carapuça serviu, não tinha culpa. O silencio é a melhor
forma para não vestir carapuças.
Este texto foi
publicado em http://www.morretesnoticia.com.br e em mcherobim.multiply em 29-Jul-2007, sites que não
mais existem.
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