segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O mboi-tatá em Bateias




A minha mãe teve um AVC em 1953. Foi o ano em que terminei o ginásio. Em 1954 fui estudar em Curitiba e cursei o primeiro no do então curso científico um dos cursos secundários que havia. Com a doença da minha mãe, o pai teve que parar de viajar. Ele era caminhoneiro. Mas o caminhão era o seu meio de vida e colocou um motorista. Terminei o primeiro ano e retornei para trabalhar junto com o meu pai; podia viajar dentro do Estado do Paraná com uma carteira de habilitação provisória do o Departamento de Trânsito fornecia para  quem tivesse 17 anos. Viajei durante todo o ano de 1955 e em 1956 ingressei na Aeronáutica para fazer o serviço militar.
Todas as estradas eram de terra  e o governador que entrou na época, intitulou-se o construtor de estradas, principalmente ligando o Norte do Paraná com o sul. Muitos caminhoneiros foram trabalhar no transporte de terra onde as estradas estavam sendo construídas. As empresas também terceirizavam máquinas, tratores, etc.
Conversei com o meu pai para que logo que completasse o serviço militar venderia o caminhão e adquiriria um trator de esteira para trabalhar na aberturas de estradas. Logo após terminar o período de instrução militar, de “ter passado pronto” e “jurado bandeira” houve inscrições para cursos de cabe e dentre eles um de sistemas hidráulicos. Encaixava nos meus interesses.
O curso seria realizado do Parque de Aeronáutica de São Paulo e ficamos à espera de um avião que nos traria para cá. Num final de semana resolvei ir a Morretes e esta viagem coincidiu com a chegada do avião. E eu perdi a viagem e o curso.
Como havia vagas num curso de cabos radiotelegrafistas auxiliares, fiz este curso e no final também me trouxe para São Paulo. Mas esta é outra história para outro momento.
O Paraná atual é bem diferente do Paraná que deixei há 53 anos. Não só o Paraná. O mundo mudou.
O caminhão do meu pai era um caminhão tanque. Transportávamos combustível entre Paranaguá e Londrina e algumas viagens esporádicas para o Oeste do Paraná, Santa Catarina e “entregas” no Norte a partir de Londrina.
O caminho “natural” para o Norte era pela Estrada do Cerne. Saía de Curitiba por Santa Felicidade, Bateias e mais 104 km de morros. Eram os Morros, como os motoristas tratavam esta estrada.
Outro dia tentei reconstruir esta viagem através do Google Earth. Não consegui. Queria contar a história do boi-tatá que vi num pasto ao longo do restaurante que parávamos ao anoitecer. A “entrada” era uma minestrone acompanhada com um bom naco de polenta mergulhada. Feijão chumbinho, arroz, (mais) polenta e frango completavam o mangiare.
Numa tarde, no lusco-fusco da noite, entrou alguém apavorado, gritando para se esconder que havia mboi-tatá no pasto. Corri em sentido contrário de todo mundo para ver o fenômeno. Consegui ver, mas muito pouco, porque me arrastaram para dentro. Chamaram-me de louco e não havia meio de acreditarem nas aulas de ciências do Dr. Albino, professor do ginásio em Morretes.
Bem, contei a história. A segunda parte, de descrever a viagem meio séculos depois, ficará para mais tarde quando passar por lá de máquina fotográfica em punho, GPS e outras “brincadeiras” que as novas tecnologias colocaram à nossa disposição.

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