sábado, 7 de abril de 2012

Revendo o Central. 313 anos de história em alguns minutos.


Estes comentários foram revisados e publicados no sábado, 7 de abril de 2012, data de comemoração dos 82º aniversário de Sirley Malucelli Lippmann, sobrinha neta de nonna Luiza Sotta. Por esta coincidência, que fui saber somente hoje (01/09/2012), dedico este texto à prima Sirley.




Este texto foi publicado em 31/05/2005. Cópia editada.

Em dezembro (de 2004) fui ao Central rever o local onde nasci. Queria mostrar para Mirtes, minha filha.

Onde havia a casa em que nasci havia uma macega.  Mas a nossa memória é imagética, ou seja, as nossas lembranças têm a forma de imagens. “Vi” o engenho funcionando, as carroças chegando carregadas de cana, a casa, a bica onde Nonna lavava as garrafas de leite, tio Jango cuidando da locomove. A casa era movimentada, com o galpão ao lado e nos fundos a estrebaria e era onde as mulheres iam conversar enquanto faziam sabão com bucho de boi, folhas de parrelheira, potassa e mais algumas misturas para dar o ponto. A potassa era guardada numa tábua, no alto e próximo às telhas. Um dia caiu na cabeça da Lolinha, mulher do Giocondo. Foi lavar a cabeça e caíram todos os seus cabelos; ficou careca por um ou dois anos.

Os chiqueiros ficavam à direita e nos fundos o pasto das vacas e cavalos.

Saíamos pelos fundos, até a estrada dos Cassilhas. A esquerda, cruzando a estrada, o campo de futebol.. Fui retrocedendo no tempo e cheguei no dia em que Nonno faleceu. Ficou gravado na minha memória o féretro passando na estrada principal, acho que sentindo que aquela era a última vez que o veria. Deu um nó na minha garganta, como se aquilo fosse naquele momento.

O meu ex-genro, italiano, comentou com a minha filha que ele e os italianos da Itália que não tiveram emigrantes entre os seus parentes, não conseguem imaginar o modo de pensar dos italianos do Brasil. Ou dos italianos de fora da Itália. A Itália para os italianos daqui não é a Itália, estado europeu, um país... algo mítico, como um passado distante. País, para eles é o Brasil. O nosso mundo é o mundo em que nascemos e vivemos; é a colônia onde desenvolvemos a nossa vida social. É a marca de nossa identidade. É o nosso território.

Num determinado momento o espaço que marcamos como território desaparece, as pessoas mudam e nós passamos a nos sentir descolados do mundo. Perdemos o que sobrava de raízes, pois a maior parte delas ficaram nas terras de origem de nossos avós. E pelas andanças por aqui muitos de nossos antepassados ficaram até sem os seus documentos.

Nonna Luigia Doff Sotta, Luiza Sotta Cherobim, nasceu em 1877, em Imer, Província de Trento. Seus pais eram Giuseppe Doff Sotta e Maria Innocenza Simion, nascidos, respectivamente  em 1836 e 1846. O meu bisnonno Giuseppe era filho de meu trinonno Giovanni, nascido em 1801 e minha bisnonna Maria Innocenza Simion era filha de Nicolo Simion e Maria Darrigo, ambos nascidos em 1822. Giovanni era filho de Pietro que nasceu em 1755, filho de Giovanni Maria nascido em 1726. Giovanni Maria era filho de Giovanni Domenico que casou com Lucia Goubert em 1692. Do casamento de Giovanni Domenico e Lucia Goubert até hoje retrocedemos  313 anos na história.

A comuna de Imer, na sua organização, presenteou os Cherobim descendentes de nonna Luiza em 313 anos de história e de raízes eu desapareceram sob a mata que cresceu sobre o chão que nos sentiu pisar.

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